sexta-feira, março 09, 2007

Memória

Sonhos de quem de sonhos morre

Faces de púrpura pinceladas

Águas de um rio que não move

Folhas de um século abandonadas

Quimeras que minh’alma teme

Fogos que por arder ficaram

Mágoas da liberdade que ainda treme

Percursos que não principiaram

Ventos de um norte que a sul fica

Olhos de um cego que ainda vê

Chagas de um espinho que não pica

Rezas de um crente que não crê

Destinos que custam a cumprir

Unhas de um membro amputado

Cálculos que ameaçam ruir

Filhos de um pai desesperado

Meses que em vão existem

Vidas findas por rebeldia

Sóis que ao frio persistem

Batalhas ganhas por covardia

Tumores nunca dilacerados

Alvos negros de tão gastos

Cabelos numa mão enclausurados

Rumos ínfimos de tão vastos

Crianças perdidas no tempo

Lábios da cor dos desejos

Sorrisos alegres de sofrimento

Balas que sabem a beijos

Erros de dor mutilados

Destinos volantes perdidos

Deuses por homens criados

Homens de deuses nascidos