Sonhos de quem de sonhos morre
Faces de púrpura pinceladas
Águas de um rio que não move
Folhas de um século abandonadas
Quimeras que minh’alma teme
Fogos que por arder ficaram
Mágoas da liberdade que ainda treme
Percursos que não principiaram
Ventos de um norte que a sul fica
Olhos de um cego que ainda vê
Chagas de um espinho que não pica
Rezas de um crente que não crê
Destinos que custam a cumprir
Unhas de um membro amputado
Cálculos que ameaçam ruir
Filhos de um pai desesperado
Meses que em vão existem
Vidas findas por rebeldia
Sóis que ao frio persistem
Batalhas ganhas por covardia
Tumores nunca dilacerados
Alvos negros de tão gastos
Cabelos numa mão enclausurados
Rumos ínfimos de tão vastos
Crianças perdidas no tempo
Lábios da cor dos desejos
Sorrisos alegres de sofrimento
Balas que sabem a beijos
Erros de dor mutilados
Destinos volantes perdidos
Deuses por homens criados
Homens de deuses nascidos