quarta-feira, outubro 26, 2005

Hoje

(Amanhã...

Amanhã vou acordar reconfortada por este sono que há muito tempo estava por acontecer...

Vou erguer-me e abraçar este sol que ilumina a visão que tenho do mundo...respirar compassadamente neste ritmo intenso da rotina a que chamam quotidiano;

Vou oferecer um sorriso puro, inocente, involuntário;

Vou descobrir a direcção das ondas rebeldes deste mar...

Vou ensinar o caminho para a suavidade deste cetim que me aconchega a alma...

Vou abrir as portas a esta quimera que de tão sonhada quase se torna real...)



Amanhã...o amanhã é distante...é uma mera hipótese na roleta russa que é a vida, e por isso, em vez de estar a fazer cálculos para esta teoria das probabilidades, vou Ser hoje tudo o que espero ser amanhã!

domingo, outubro 23, 2005

Era uma vez o sonho...

"Era uma vez..."



Eu adormecia ao som destas palavras... e sonhava com o mundo ideal, com pessoas ideais, com futuros ideais...

E à medida que eu sonhava, iam-se desenhando em mim as metas a atingir, os caminhos a percorrer, as asas a ganhar...

Quando acordava, o mundo estava na mesma... mas havia mais uma linha no desenho dos meus sonhos... e fazia toda a diferença...





"Era uma vez..."



Eu adormeço ao som destas palavras... e sonho com o mundo ideal, com pessoas ideais, com futuros ideais...

E à medida que eu sonho, vão-se desenhando em mim as metas a atingir, os caminhos a percorrer, as asas a ganhar...

Quando acordo, o mundo está na mesma... mas há uma linha a mais no desenho dos meus sonhos...e faz toda a diferença...apesar de saber que não existe um mundo ideal, nem pessoas ideais, nem futuros ideais...



Está bem, não existem...mas pelo menos eu sei que cada linha que desenho nos meus sonhos me guia para tornar o mundo um pouco melhor, para encontrar as pessoas certas, e para ter um futuro o mais risonho possível...



E é por isso que eu sonho... desde sempre... (e a partir do momento em que deixar de acreditar nos meus sonhos...então é mau sinal...)



"Conta-me histórias daquilo que eu não vi..."

terça-feira, outubro 18, 2005

Viagem

(A janela oferece estímulos visuais que coloram os meus pensamentos...

Passo a viagem a olhar por ela e acendo assim as dissertações que me ocupam o tempo...)



Em andamento, tudo passa num instante...as imagens desaparecem à medida que a estrada se nos oferece, e as cores misturam-se numa sinestesia que nos avassala o temperamento...já tive mais paciência para acarretar aquilo que a velocidade me transmite...hoje talvez não seja um dia normal...talvez eu própria não seja 'normal' hoje...

Apetece-me abrir a janela, gritar bem alto! Tão alto a ponto de a terra estremecer... mas não tenho força para tal...invoco-vos a vocês!, para que gritem por mim...mas por favor, façam com que eu oiça o vosso grito...gostava de escutar-vos ao menos mais uma vez nesta viagem...

Lá fora os estímulos vão e vêm e as minhas pupilas embebedam-se de contrastes. Olho para trás...e arrependo-me...talvez Atlas também se tenha arrependido de olhar para trás...o peso nas minhas costas aumenta a cada dia, a velocidades vertiginosas...

E o mundo não espera por mim...as imagens correm e não as consigo alcançar...a metragem é cada vez mais longa...e o mundo não espera por mim, sei que não...



(Olho para aquela lua que me persegue, por mais rápido que avance...ainda vou descobrir porquê...)



Aos companheiros de viagem, aos que ajudam a percorrer esta estrada sem o saberem, e aos que abrem as janelas de cada dia...

domingo, outubro 16, 2005

Fecho os olhos...

Fecho os olhos e vejo um foco de luz...uma esperança que se acende lá no fundo...um horizonte que nasce porque eu existo...

Fecho os olhos e acordo...o sol aquece em mim as palavras que ficaram por dizer...os caminhos que percorro por ninguém...

Fecho os olhos e abraço o mundo...e canto e grito e disserto sobre uma existência que nasceu como uma força centrífuga que nos alcança...

Fecho os olhos e alimento a Alma...sou Eu sem precisar de o ser...

Fecho os olhos e perco-me...e nascem em mim as asas que os pássaros perderam...reflito...

Fecho os olhos e acendo os sonhos...onda que baila quando o mar está calmo...

Fecho os olhos e vejo...fecho os olhos e vejo...FECHO OS OLHOS E VEJO...

Foco de luz que me pertence...foco de luz que me ilumina...foco de luz de quem eu sou...

Fecho os olhos e sei...

terça-feira, outubro 11, 2005

Desvia a cortina...

- Olha lá para fora! Desvia a cortina e olha...

- Mas olhar para o quê!?

- Olha pura e simplesmente! Desvia a cortina e olha!



Hesitou... mas como o olhar dele era intimidador, com alguma desconfiança afastou a cortina e olhou lá para fora...



- Então, o que viste?

- O mesmo de sempre... o mesmo cenário, a mesma paisagem, as mesmas cores...ainda não percebi o porquê da tua insistência...

- Não te digo mais nada, o resto cabe-te a ti! Talvez um dia te arrependas de não ter visto um cenário diferente, uma paisagem diferente, cores diferentes... talvez um dia te arrependas...



Ele saiu e ela ficou pensativa... o que quereria ele dizer com aquilo!?

E por curiosidade, voltou a afastar as cortinas e olhou de novo lá para fora. Pela primeira vez, teve a sensação de que não conhecia a imagem que sempre vira pela janela do seu quarto... talvez nunca tenha tido tempo nem disposição para olhar realmente para os estímulos visuais que se lhe apresentavam...

Fechou a cortina, deitou-se na cama e pensou...

Pensou até que, por impulso, deu um pulo e se dirigiu de novo à janela. Afastou as cortinas, abriu o vidro e pela primeira vez nos tempos da sua existência sentiu a sinestesia que os seus poros tanto imploravam...

Agarrou nas chaves e saiu. Foi ter com ele. Sentiu-se bem e teve certeza do seu sorriso.

Tudo estava igual, nos mesmos sítios do costume. Mas para ela tudo parecia diferente...

...afinal tinha acordado para o mundo...







"Se estou sozinho, é num beco que me encontro
vou porta a porta perguntando a quem me viu
se ali morei, se eu era o mesmo, e em que ponto
o meu desejo fez as malas e partiu"

Sérgio Godinho, As certezas do meu mais brilhante amor

segunda-feira, outubro 10, 2005

A ti...

Perdi a conta às vezes que as tuas mãos me ampararam as quedas...

Perdi a conta às vezes que os teus sorrisos fizeram nascer nos meus lábios a vontade de sorrir...

Perdi a conta às vezes que os teus olhos cúmplices me falaram num silêncio absoluto...

Perdi a conta aos versos do Pessoa e do Ary e às melodias do Sérgio e do Zeca que me ofereceste como quem oferece as estrelas...

Perdi a conta aos sonhos que fizeste nascer em mim, às palavras sabedoras com que me empurraste para a frente...

Perdi a conta aos momentos junto a ti que ficaram eternizados em mim...

Perdi a conta às emoções que uso para te descrever...

Perdi a conta às confissões que guardamos a cadeado dentro de nós...

Perdi a conta às vezes que ficaste na sombra para que eu ficasse na luz...



Não digas nada porque hoje é a minha vez de dizer-te tudo aquilo que deve ser dito... e se algum dia a voz me falhar, que fiquem gravadas estas palavras na história de que fazemos parte...

(Que se cale o vento, que se calem os ecos, que se calem as vozes que não chegam a lado nenhum...)



Hoje é a ti que ofereço estas linhas... companheiro do passar das horas, do passar dos anos, do virar das páginas da nossa história...



E que passem muitos mais horas e muitos mais anos... e que estejamos juntos para virar muitas mais páginas de história...



"a noite passada fui passear no mar
a viola irmã cuidou de me arrastar
chegado ao mar alto abriu-se em dois o mundo
olhei para baixo, dormias lá no fundo
faltou-me o pé, senti que me afundava
por entre as algas teu cabelo boiava
a lua cheia escureceu nas águas
e então falámos
e então dissemos
aqui vivemos muitos anos"

Sérgio Godinho, A noite passada

domingo, outubro 09, 2005

Quimera de Cetim

Talvez o horizonte esteja demasiado distante...

Talvez o sol esteja alto demais...

Talvez as barreiras sejam excessivamente opressivas...

Talvez a força teime em falhar...

Talvez o mundo seja pequeno para nós...

Talvez a certeza nunca o tenha sido...

Talvez as palavras sejam fúteis...

Talvez as mãos tremam quando não devem...

Talvez as perguntas não tenham resposta...



Talvez... Talvez... Talvez...



Talvez a vida não fizesse sentido sem sonhos ou metas que esperamos atingir;



Talvez nos falte uma Quimera de Cetim...