- Olha lá para fora! Desvia a cortina e olha...
- Mas olhar para o quê!?
- Olha pura e simplesmente! Desvia a cortina e olha!
Hesitou... mas como o olhar dele era intimidador, com alguma desconfiança afastou a cortina e olhou lá para fora...
- Então, o que viste?
- O mesmo de sempre... o mesmo cenário, a mesma paisagem, as mesmas cores...ainda não percebi o porquê da tua insistência...
- Não te digo mais nada, o resto cabe-te a ti! Talvez um dia te arrependas de não ter visto um cenário diferente, uma paisagem diferente, cores diferentes... talvez um dia te arrependas...
Ele saiu e ela ficou pensativa... o que quereria ele dizer com aquilo!?
E por curiosidade, voltou a afastar as cortinas e olhou de novo lá para fora. Pela primeira vez, teve a sensação de que não conhecia a imagem que sempre vira pela janela do seu quarto... talvez nunca tenha tido tempo nem disposição para olhar realmente para os estímulos visuais que se lhe apresentavam...
Fechou a cortina, deitou-se na cama e pensou...
Pensou até que, por impulso, deu um pulo e se dirigiu de novo à janela. Afastou as cortinas, abriu o vidro e pela primeira vez nos tempos da sua existência sentiu a sinestesia que os seus poros tanto imploravam...
Agarrou nas chaves e saiu. Foi ter com ele. Sentiu-se bem e teve certeza do seu sorriso.
Tudo estava igual, nos mesmos sítios do costume. Mas para ela tudo parecia diferente...
...afinal tinha acordado para o mundo...
"Se estou sozinho, é num beco que me encontro
vou porta a porta perguntando a quem me viu
se ali morei, se eu era o mesmo, e em que ponto
o meu desejo fez as malas e partiu"
Sérgio Godinho, As certezas do meu mais brilhante amor
terça-feira, outubro 11, 2005
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