segunda-feira, setembro 04, 2006

Quimeras

Quero percorrer os caminhos proibidos que conduzem para lá de mim.
Transcender esta essência secreta que se apega em cada pedaço daquilo que sou.
Quero voar, sentir, respirar esta vontade de ir mais além.
Flutuar por esses mares que ainda ninguém descobriu.
Quero viver com toda a garra, soltar as amarras dos ecos e dos silêncios bordados pelo passar dos anos.
Sonhar num mundo onde tal é crime, ultrapassar a barreira invisível que tantos temem.
Quero abraçar a certeza do ser e vencer a ampulheta que não espera por nada nem ninguém.
Tecer a verdade que tantos procuram… tecer a verdade que poucos encontram…

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Karika

Se o coração teimar em apertar,

Se as lágrimas cederem ao sofrimento,

Se os espinhos ferirem demais;

Se as asas não tiverem força para voar;

Se os sonhos permanecerem irreais;

Se as mágoas falarem mais alto do que as boas recordações;

Se o mundo ingrato virar as costas;

Se as mãos tremerem quando delas precisares;

Se o sol não aquecer o teu sorriso de menina que se fez mulher à força;

Se faltar um abraço que apague as amarguras do dia;

Se a insónia resistir à vontade de dormir;

Se não houver vontade de enfrentar a luz do dia…

(Mostraste-me que a distância não é barreira para a amizade… porque às vezes está mais longe de nós quem está mais perto…e quando o sol se apaga surges tu, com as palavras que mais ninguém sabe dizer…quantas vezes as esgotámos em sessões de confidências…quantas gargalhadas…quantos abraços…quantos sonhos partilhados…e o sol aquece mais quando nos sentimos compreendidas…)





E se a noite cair sobre a tua alma, espero poder acender uma luz que dilacere a escuridão…

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Carta

Dobro a carta e guardo-a num dos bolsos do casaco. Agarro a mala e parto de vez.
Não tive ainda coragem para ler o que me escreveste… as palavras ferem tanto… tu sabes disso. Sempre me disseste para ter mais cuidado com elas do que com as pessoas…
Olho uma ultima vez essa casa que deixou de o ser. Não tenho projectos. Parto sem direcção. Talvez não aceites esta covardia de deixar tudo ao abandono. Não faz mal. Eu também não gostei que te fosses embora deixando apenas uma carta…esta carta que trago no bolso esquerdo do casaco.
Caminho pausadamente. Não tenho pressa de descobrir que estou perdida. Nada faz sentido desde que tu escreveste esta carta que ainda não li.
Guardo em mim as memórias dos sonhos alimentados no luar da infância, florescem em mim as certezas conseguidas no amanhecer da pauta que trago no outro bolso do casaco. A pauta que outrora estava emoldurada por cima da tua cabeceira. A pauta com que me ensinaste a esperar pelos compassos do tempo.
Na bagagem levo os teus conselhos. E olha que vai bem pesada. Dantes eras tu que me ajudavas a carregá-la.
Hoje não pude contar com a tua ajuda. Nem para carregar a bagagem, nem para tirar a pauta da moldura, nem sequer para me ajeitar a gola do casaco quando sai…




Adeus. Levo comigo a bagagem, a pauta amarrotada e a gola por ajeitar.
Ah! E uma carta por abrir…