segunda-feira, janeiro 09, 2006

Carta

Dobro a carta e guardo-a num dos bolsos do casaco. Agarro a mala e parto de vez.
Não tive ainda coragem para ler o que me escreveste… as palavras ferem tanto… tu sabes disso. Sempre me disseste para ter mais cuidado com elas do que com as pessoas…
Olho uma ultima vez essa casa que deixou de o ser. Não tenho projectos. Parto sem direcção. Talvez não aceites esta covardia de deixar tudo ao abandono. Não faz mal. Eu também não gostei que te fosses embora deixando apenas uma carta…esta carta que trago no bolso esquerdo do casaco.
Caminho pausadamente. Não tenho pressa de descobrir que estou perdida. Nada faz sentido desde que tu escreveste esta carta que ainda não li.
Guardo em mim as memórias dos sonhos alimentados no luar da infância, florescem em mim as certezas conseguidas no amanhecer da pauta que trago no outro bolso do casaco. A pauta que outrora estava emoldurada por cima da tua cabeceira. A pauta com que me ensinaste a esperar pelos compassos do tempo.
Na bagagem levo os teus conselhos. E olha que vai bem pesada. Dantes eras tu que me ajudavas a carregá-la.
Hoje não pude contar com a tua ajuda. Nem para carregar a bagagem, nem para tirar a pauta da moldura, nem sequer para me ajeitar a gola do casaco quando sai…




Adeus. Levo comigo a bagagem, a pauta amarrotada e a gola por ajeitar.
Ah! E uma carta por abrir…

1 comentário:

Anónimo disse...

Acho, mas mesmo a sério, que podes pensar em começar a escrever um livro.
vou continuar a passar por aqui para ir lendo o que escreves
beijinhos
boa semana
bons estudos