sexta-feira, março 09, 2007

Memória

Sonhos de quem de sonhos morre

Faces de púrpura pinceladas

Águas de um rio que não move

Folhas de um século abandonadas

Quimeras que minh’alma teme

Fogos que por arder ficaram

Mágoas da liberdade que ainda treme

Percursos que não principiaram

Ventos de um norte que a sul fica

Olhos de um cego que ainda vê

Chagas de um espinho que não pica

Rezas de um crente que não crê

Destinos que custam a cumprir

Unhas de um membro amputado

Cálculos que ameaçam ruir

Filhos de um pai desesperado

Meses que em vão existem

Vidas findas por rebeldia

Sóis que ao frio persistem

Batalhas ganhas por covardia

Tumores nunca dilacerados

Alvos negros de tão gastos

Cabelos numa mão enclausurados

Rumos ínfimos de tão vastos

Crianças perdidas no tempo

Lábios da cor dos desejos

Sorrisos alegres de sofrimento

Balas que sabem a beijos

Erros de dor mutilados

Destinos volantes perdidos

Deuses por homens criados

Homens de deuses nascidos

terça-feira, janeiro 30, 2007

De vez em quando.
Talvez de vez em quando demais… quando o sol e a lua se confundem no meu beijo de seda… desço a escada à pressa… está-me no sangue a pressa e estas garras que vão, vêm, tornam a vir para nos agarrar e nos tornar iguais a nós mesmos…

Deixei de querer estes silêncios que se me abotoam aos sonhos que trago no peito. Não quero, não! Chega de querer o que nunca consegui sequer imaginar…

Quantas vezes quis forçar o mundo a prosseguir um caminho sem dono… quantas vezes me julguei perdida numa linha recta…

Ah, e estas vozes de dentro que se ouvem por fora e lamentam a saliva perdida em palavras de dor…

Quero mais do que isto… mas ao mesmo tempo não quero nada. Porque é mais fácil não ter nada do que ter tudo o que se quer…

Mas eu quero… o quê não sei. Nunca saberei, ninguém saberá…

A resposta, nunca ma deste… e todos os meus porquês se transformaram em murmúrios de uma falsa conformidade.

Nunca saberás se amanhã será melhor que hoje, porque te rendeste às amarguras de um ontem. Nunca saberás… e eu nunca saberei o porquê da tua ânsia de terminar com o futuro…

Talvez te tenhas arrependido quando já era tarde demais (afinal existe mesmo um
tarde demais…)

Mas eu nunca me arrependi de ter guardado aquelas tuas palavras dentro da alma.

E aquela última imagem de ti. Descias as escadas à pressa… e quantas vezes eu te achei igual a mim mesma…

Hoje sei que não. Amanhã não sei se sim.

segunda-feira, setembro 04, 2006

Quimeras

Quero percorrer os caminhos proibidos que conduzem para lá de mim.
Transcender esta essência secreta que se apega em cada pedaço daquilo que sou.
Quero voar, sentir, respirar esta vontade de ir mais além.
Flutuar por esses mares que ainda ninguém descobriu.
Quero viver com toda a garra, soltar as amarras dos ecos e dos silêncios bordados pelo passar dos anos.
Sonhar num mundo onde tal é crime, ultrapassar a barreira invisível que tantos temem.
Quero abraçar a certeza do ser e vencer a ampulheta que não espera por nada nem ninguém.
Tecer a verdade que tantos procuram… tecer a verdade que poucos encontram…

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Karika

Se o coração teimar em apertar,

Se as lágrimas cederem ao sofrimento,

Se os espinhos ferirem demais;

Se as asas não tiverem força para voar;

Se os sonhos permanecerem irreais;

Se as mágoas falarem mais alto do que as boas recordações;

Se o mundo ingrato virar as costas;

Se as mãos tremerem quando delas precisares;

Se o sol não aquecer o teu sorriso de menina que se fez mulher à força;

Se faltar um abraço que apague as amarguras do dia;

Se a insónia resistir à vontade de dormir;

Se não houver vontade de enfrentar a luz do dia…

(Mostraste-me que a distância não é barreira para a amizade… porque às vezes está mais longe de nós quem está mais perto…e quando o sol se apaga surges tu, com as palavras que mais ninguém sabe dizer…quantas vezes as esgotámos em sessões de confidências…quantas gargalhadas…quantos abraços…quantos sonhos partilhados…e o sol aquece mais quando nos sentimos compreendidas…)





E se a noite cair sobre a tua alma, espero poder acender uma luz que dilacere a escuridão…

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Carta

Dobro a carta e guardo-a num dos bolsos do casaco. Agarro a mala e parto de vez.
Não tive ainda coragem para ler o que me escreveste… as palavras ferem tanto… tu sabes disso. Sempre me disseste para ter mais cuidado com elas do que com as pessoas…
Olho uma ultima vez essa casa que deixou de o ser. Não tenho projectos. Parto sem direcção. Talvez não aceites esta covardia de deixar tudo ao abandono. Não faz mal. Eu também não gostei que te fosses embora deixando apenas uma carta…esta carta que trago no bolso esquerdo do casaco.
Caminho pausadamente. Não tenho pressa de descobrir que estou perdida. Nada faz sentido desde que tu escreveste esta carta que ainda não li.
Guardo em mim as memórias dos sonhos alimentados no luar da infância, florescem em mim as certezas conseguidas no amanhecer da pauta que trago no outro bolso do casaco. A pauta que outrora estava emoldurada por cima da tua cabeceira. A pauta com que me ensinaste a esperar pelos compassos do tempo.
Na bagagem levo os teus conselhos. E olha que vai bem pesada. Dantes eras tu que me ajudavas a carregá-la.
Hoje não pude contar com a tua ajuda. Nem para carregar a bagagem, nem para tirar a pauta da moldura, nem sequer para me ajeitar a gola do casaco quando sai…




Adeus. Levo comigo a bagagem, a pauta amarrotada e a gola por ajeitar.
Ah! E uma carta por abrir…

quarta-feira, outubro 26, 2005

Hoje

(Amanhã...

Amanhã vou acordar reconfortada por este sono que há muito tempo estava por acontecer...

Vou erguer-me e abraçar este sol que ilumina a visão que tenho do mundo...respirar compassadamente neste ritmo intenso da rotina a que chamam quotidiano;

Vou oferecer um sorriso puro, inocente, involuntário;

Vou descobrir a direcção das ondas rebeldes deste mar...

Vou ensinar o caminho para a suavidade deste cetim que me aconchega a alma...

Vou abrir as portas a esta quimera que de tão sonhada quase se torna real...)



Amanhã...o amanhã é distante...é uma mera hipótese na roleta russa que é a vida, e por isso, em vez de estar a fazer cálculos para esta teoria das probabilidades, vou Ser hoje tudo o que espero ser amanhã!

domingo, outubro 23, 2005

Era uma vez o sonho...

"Era uma vez..."



Eu adormecia ao som destas palavras... e sonhava com o mundo ideal, com pessoas ideais, com futuros ideais...

E à medida que eu sonhava, iam-se desenhando em mim as metas a atingir, os caminhos a percorrer, as asas a ganhar...

Quando acordava, o mundo estava na mesma... mas havia mais uma linha no desenho dos meus sonhos... e fazia toda a diferença...





"Era uma vez..."



Eu adormeço ao som destas palavras... e sonho com o mundo ideal, com pessoas ideais, com futuros ideais...

E à medida que eu sonho, vão-se desenhando em mim as metas a atingir, os caminhos a percorrer, as asas a ganhar...

Quando acordo, o mundo está na mesma... mas há uma linha a mais no desenho dos meus sonhos...e faz toda a diferença...apesar de saber que não existe um mundo ideal, nem pessoas ideais, nem futuros ideais...



Está bem, não existem...mas pelo menos eu sei que cada linha que desenho nos meus sonhos me guia para tornar o mundo um pouco melhor, para encontrar as pessoas certas, e para ter um futuro o mais risonho possível...



E é por isso que eu sonho... desde sempre... (e a partir do momento em que deixar de acreditar nos meus sonhos...então é mau sinal...)



"Conta-me histórias daquilo que eu não vi..."